sábado, 30 de julho de 2016

Poema do Marajó

Há no rio um riso frouxo
Que suponho seja o meu
Fui olhar para esse rio
E o meu sorriso se perdeu

Há no rio um choro franco
Que talvez pertença a mim
Fui olhar para esse rio
E meu amor chegou ao fim

Nas baronesas flutuantes
Ou como queira, mururé
Vi deslizar em águas turvas
Uma paixão igarapé

Mas se rio tem um destino
E esse destino é o mar
Vou voltar pra minha terra
Bem depressa vou voltar

Quem sabe eu chego antes
Quem sabe eu chego já
Para o mar que me espera
Para o mar que irei amar

E desse rio levo a saudade
Levo sol e levo cor
Levo tanto sentimento
E por que não dizer, amor!

Levo histórias, levo contos
Personagens e louvor
Levo tanto de quase tudo
E por que não dizer, amor!

E assim a vida segue
Marajó, com seu calor,
Deixo meus passos nesse rio
E por que não dizer, amor...

Lualves


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Ecos

                                                                           Ecos


Água
espuma
raios


Ah...!
não fosse o mar 
insuportável seria  a culpa.


Pílulas de Deus
essa coisa aí azul que  não me faz morrer
antítese, antídoto, anti qualquer coisa que  me traga alívio


“O que habita em mim e não conheço é que mais me faz sofrer” – disse a voz da voz de dentro!


O que fazer para vencer        o inimigo que não vemos (?)
essa força que se esconde nos currículos mentais
... ais
... ais
... quantos ais ocultados
no labirinto de nós,
entre canos,
                                              
  veias, vias, vielas
             sangue, vinho e velas ao vento
             que vai levando tantas vozes
             que vai voltando tantas vezes
             uvas, vulvas, ventre de minha mãe
             de onde eu vim e  para onde  vou  quando tenho frio


Quem pode ouviver o (curto) circuito cerebral
onde a lucidez se perdeu e a certeza se partiu?
Será química ou desprezo
Mistério ou abandono?


Sou tantas possibilidades nesse plural de especulações
que mal me reconheço....


Quanta loucura haverá  num  homem em frente ao espelho????





Aprisionado em confusões  vejo que,
  de certa forma, me sustento assim

Olho  o mundo
manicômio sem paredes
e tenho medo... medo... medo... e me divido
ora alegre ora triste ora fogo ora mel
sou Deus e diabo na terra do fel
sou cera e carvão na face do sol


Aqui vou eu!
e esse efeito bipolar que me acompanha
meus sorrisos  minhas lágrimas
tudo é rio, que venha o mar!


Ei.....!
Minha culpa é meu desejo
Meu cajado, meu bastão
Mas quem há de me culpar?

Ainda continuo a ver

as ondas  e suas espumas


ao longe escuto o eco dessa inevitável  inconsciência
sussurrar dentro de mim...





Lualves. Travessia Mar Grande/ Salvador. Março/2009

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Sobre o Tempo...


Meios

Meios

À Ana Isabel

Nasceu uma malva no meio do peito
Dessas do campo e da calçada
Meio mato, meio morro
Meio gente, meio pasto
Meio sorriso, meio praga
Meio saga e meio drama

Cresceu uma malva no meio da estrada
Dessas que sonham ser flor
Meio sonho, meio cor
Meio ruído e melodia
Meio dia e meio mente
Meio medo e meio lama

Malvada Malva meiga e muda
Dessas que choram em seus leitos
Meio busto e meio peitos
Meio jeito e meio louca
Meio calma e meio casta
Meio aula e meio Ana

Aconteceu Malva
Alegre e plena
De punhal na mão
Sorriso insano
E um certo olhar
Perdido no cinza do horizonte

Meio tu e meio eu...


Lualves 26.05.1997





domingo, 10 de julho de 2016

Infarto


Meu coracao parou.

(nao sei se é dia ou noite e há um frio chegando ao norte)

                                  não tenho lá muita coisa, é verdade.

o que trago comigo, alem de 01 nota de 50 e duas de 10
no bolso esquerdo de “minha velha calça desbotada ou coisa assim”?

não sei precisar. 

talvez um sonho, um medo, um “trancilim”
esperança não, custa caro.

Meu coração parou

                                   e tem um kit salva-verso na última gaveta do armário
                                   lá na casa lá de casa 
                                   onde o que há de menino em mim
                                   se esconde do dragão da maldade

Oh, Beatriz onde estás?
não vejo nenhum Virgílio e não me lembro se meu nome é Dante
mas se o inferno é aqui, porque não vens?

Meu coração parou

e eu não morri
porque sinto bater em meu peito
o seu coração que trago em mim desde o dia em que te vi

Lualves

domingo, 3 de julho de 2016

E por falar em saudade, onde anda VOCÊ?

Sentou-se confortavelmente em sua poltrona e contemplou o mundo das idéias. Era seu costume. Decidiu, há muito tempo, não maldizer a sua própria história, ainda que lamentasse os fatos. Afinal, “não havia motivos para sentir-se infeliz”, ou solitário, não obstante a eterna sensação de vazio. “O buraco é no Ser não no Ter”, dizia o analista. Verdade. “De que felicidade, todos falam??”, era a voz da voz de dentro. “A felicidade dos outros?”. Nada pior que a sensação de não poder viver do que se ama. “Mas, como viver de Poesia?”. Deixou para traz os sonhos e (parte!) da rebeldia da primeira Juventude. A experiência e a sensatez o fez normal. Mas o desejo, a subversão, o profundo entregar-se do Poeta, manteve-o na loucura... e foi assim que ainda está. (Lualves)