segunda-feira, 30 de maio de 2016

Tropeço

Todo calcanhar tem seu Aquiles
Toda kryptonita, um Super Man
O leite corta
O ferro enferruja
O riacho seca
A chuva falta
A mão fica dormente
E dá vertigem no olhar
O pedreiro perde o prumo
E o muro sem rumo
Entorta, esmorece 
A faca  fica cega
De tanto cortar
O corte que separa um amor
Demora tanto a cicatrizar
Toda vida tem seu vigia
Todo olho um dia há de ser riacho
E eu me pergunto: “Como hei de ficar em pé nesse mundo sacana?”


Lualves

sábado, 28 de maio de 2016

"Ice" café

                                                                "Ice" Café

Sabor gelado que minha boca toca...

Quanta custa esse café que sorvo agora?

Não o que será pago, no final das contas,
falo do  custo do açúcar do Gullar,
com quem “comverso” agora ,
suada brancura que adoçou o seu café
numa certa manhã em Ipanema

cana de outrora que não foi produzida por Ele
nem surgiu nesse poema por milagre
tal qual o casal a minha frente que sequer pode imaginar
que pela casualidade fatal
fatalmente entraria neste universo-verso
grãos que viciam a gente...
                                                                      

Será que, de alguma maneira, há qualquer tipo de  ligação entre eles,
eu,  o Poeta, Seu açúcar e o meu café, cujo preço me custa calcular?

Qual o custo das coisas que me cercam? A que custo estou aqui?
E esses milhares de pessoas caminhando sobre esse chão reluzente
dispostos a gastar e pagar pelas coisas muito mais do que elas parecem valer

Há lógica nessa matemática?       Ah, Deus meu,
se eu fosse economista não me custaria tanto desvendar            essa questão.

 A que custo vivo eu e minha morte quanto valerá???

Morrer custa caro... e o sonho, qual a valia?

“Pelo menos sete alpinistas estão desaparecidos após serem atingidos por uma avalanche quando desciam do K2, o segundo maior pico do mundo, no norte do Paquistão “ –  eis a notícia do dia.

Entre um gole e outro desse doce-amargo que me seduz
a vida e a dúvida seguem em frente
e o poema se vai

catado, seco,
torrado e moído

e mesmo que não queiram (ou creiam) alguns
se foi
processado pela cafeteira que a poesia fez em mim
e que a partir de agora
segue cafetizando em voce.



Lualves

A Minha(?) Poesia...

A minha poesia não pertence a mim
A mim não pertence a minha poesia
Se não a mim, a quem pertence
(!?)

...

A poesia está acima dessas questões
É como o mar...
Pertence a todos e a ninguém pertence




Lualves, Janeiro/2001.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Eu hei de ir
impossível escapar do beijo Seu
ou
dizer “Não!” ao seu ressoar
Hei de ir, sim...
pode ser amanhã
quando da leitura tua
ou lá adiante, num domingo qualquer
poderá ser verão ou noite
chuva ou canção de Luiz Gonzaga (no mês de junho)
em qualquer que seja o naipe
ouvirás de mim, durante a marcha:
“Eu amei!”
amei demais, camarada.
mais, do que pude? do que foi permitido?
(quem me diz a medida exata do amor...)
eu caminho para o trabalho e vejo pessoas
são faces e histórias emolduradas em janelas
olham para mim alheias ao poema que nasce
alheias ao tempo que morre
nunca saberão das flores que carrego dentro do peito
tampouco dos espinhos que nas Rosas feriram meu olhar
podem nunca mais me ver passar ali outra vez
assim como posso nunca mais vê-las em estado de Van Gogh
o policial me acena
meu sapato está gasto
encontraram um escorpião no piso da cozinha
não chegou nenhum torpedo de bom dia hoje
mas tem um passarinho na árvore olhando pra mim
e ele canta...
Eu hei de ir...
quando for o tempo do não mais
com um pouco de sorte
alguém escreverá num cantinho qualquer:
“Aqui repousa uma matéria poética.
Restos de um homem que viveu,
fez versos; e ousou amar...”
Lualves. Maio.2010

À Maria, eu me dei.

dei meus dias, meus afetos
sopros profundos que haviam em mim
meu girassol endoidecido de amarelo
dei-lhe a honra do meu mais doce caramelo
que minha vó me deu

e tem mais:
dei meus versos todos, que loucura!

é que o amor endoida a gente, não é mesmo Maria?
será que pesou em seu colo de alecrim
tanta insanidade minha?

(maldito é o amor que agora me impede de ouvir a voz da lua... ai, meu Deus...onde foi que me avessei? Em que soluço me perdi? Em que praça me engasguei?)

À Maria, eu me dei.

e dei mais:
foi tanto canto de mim
que minhas juntas ficaram frouxas
e minhas pernas se foram magras
e meus varais viraram uivo
e minha voz tornou-se um rasgo
e minhas mãos se abriram em bandas

e o sem fim de flores que colhi pra enfeitar o seu vestido de Maria
será que tu não viu, coração!!!???

Ah! Maria...

... o pior castigo do homem é amar uma ilusão!

passa a noite, passa o tempo
e o amanhã não chega...

olho-me no espelho e percebo atônito
que não há ninguém

no final das contas
sou a sombra do homem pássaro que fui
um dia

vivendo à procura de um rastro de mim mesmo, poesia
uma centelha de verbo que me faça voltar

desse mundo perdido...
... de a Maria.


Lualves.2011